sábado, 27 de março de 2010

Los Enigmas - Pablo Neruda


Me habéis preguntado qué hila el crustáceo entre

sus patas de oro y os respondo: El mar lo sabe.
¿Me decís qué espera la ascidia en su campanatransparente?
¿Qué espera?Yo os digo, espera como vosotros el tiempo.
Me preguntáis a quién alcanza el abrazo del alga Macrocustis?
Indagadlo, indagadlo a ciertahora, en cierto mar que conozco.
Sin duda me preguntareis por el marfil maldito
del narwhal, para que yo os conteste de qué modo
el unicornio marino agoniza arponeado.

¿Me preguntáis tal vez por las plumas alcionarias
que tiemblan en los puros orígenes de la marea austral?
¿Y sobre la construcción cristalina del polipo habéis
barajado, sin duda, una pregunta más, desgranándola ahora?

¿Queréis saber la eléctrica materia de las púas del fondo?
¿La armada estalactita que camina quebrándose?
¿El anzuelo del pez pescador, la música extendida
en la profundidad como un hilo en el agua?

Yo os quiero decir que esto lo sabe el mar, que la vida
en sus arcas es ancha como la arena, innumerable y pura
y entre las uvas sanguinarias el tiempo ha pulido
la dureza de un pétalo, la luz de la medusa
y ha desgranado el ramo de sus hebras corales
desde una cornucopia de nácar infinito.

Yo no soy sino la red vacía que adelanta
ojos humanos, muertos en aquellas tinieblas,
dedos acostumbrados al triangulo, medidas
de un tímido hemisferio de naranja.

Anduve como vosotros escarbando
la estrella interminable,
y en mi red, en la noche, me desperté desnudo,
única presa, pez encerrado en el viento.



OS ENIGMAS (tradução)

Perguntastes-me o que fia o crustáceo entre
suas patas de ouro e eu respondo-vos: O mar sabe.
Dizeis-me o que espera a ascídia no seu sino transparente?
O que espera? Eu digo-vos: como vós, espera o tempo.
Perguntais-me o que alcança o braço da alga Macrocustis?
Indagai-o, indagai-o a certa hora, em certo mar que eu sei.
Sem dúvida me perguntareis pelo marfim maldito
do narval, para que vos responda de que modo
o unicórnio marinho agoniza arpoado.

Perguntai-me talvez pelas plumas alcionárias
que tremem nas puras origens da maré austral?
E sobre a construção cristalina do pólipo
baralhastes, sem dúvida, uma pergunta mais, desfiando-a agora?

Quereis conhecer a matéria eléctrica das puas do fundo?
A armada estalactite que caminha a quebrar-se?
O anzol do peixe pescador, a música estendida
na profundidade, como um fio na água?

Quero dizer-vos que tudo isto sabe o mar, que a vida
nas suas arcas é vasta como a areia, inumerável e pura
e entre as uvas sanguinárias o tempo poliu
a dureza de uma pétala, a luz da medusa
e debulhou o ramo das suas fibras corais
numa cornucópia de nácar infinito.

Não sou senão a rede vazia que adianta
olhos humanos, mortos naquelas trevas,
dedos acostumados ao triângulo, medidas
de um tímido hemisfério de laranja.

Andei como vós, escarvando
a estrela interminável,
e na minha rede, na noite, acordei nu,
única presa, peixe preso no vento.


quarta-feira, 24 de março de 2010

Sobre Saltos e Assaltos

Como que, por um fenômeno de ressonância, fui alvo de tal assalto, logo ali em pleno asfalto, sob os holofotes dos teatros das banalidades das nossas vidas. E os relógios ensurdecedores marcavam os acontecimentos bio-lógicos “civis”, em nome da sociabilidade antropofágica nas esquinas moribundas do desespero. Apenas os mendigos e os ébrios foram poupados, e por terem sido salvos, tornaram-se testemunhas dos papéis de cada um no seu crime de vida – ou de não-vida.
Todos sabiam que o animal estava à solta. Contudo, ignoravam-no. E pior: subestimavam-no em sua animalidade e destreza de ser como só ele sabe, meticuloso, incólume e belo no seu silêncio, na sua mudez - feroz. Contudo, não há como negar que muitos, apesar de vítimas e criminosos de si mesmos, foram seduzidos pelo salto e seu prelúdio existencial: o que todos ignoravam, inclusive eu, era a sedução por sua precisão quase que cirúrgica de romper o tempo, o espaço, o tédio e o ódio. Era o (re)nascimento da loucura; o rompimento do asfalto; o gérmen da vida que se manifestou muda, e tornou tudo mudo e por pouco, muito pouco, feroz.
E o que se sucedeu? Foi o nada, a perplexidade que marcou o momento de vida subsequentemente – ou imediatamente – ceifada. A flor que rompeu o asfalto, arrancada. Mas, o que houve? A cidade não parou, a música foi escutada mas não ouvida. Não se deram ouvidos a mudez do salto, porque lembrou-nos todos da vida que nos foi tirada, ou que jogamos no ralo, na felicidade que demos descarga. O de repente tornou-se habitualidade, desterritorialização. E eu, que procurava A Terra dos Caras que Não Sabiam de Nada, fui vilipendiado pelo meu próprio enredo curto; poema curto; vida curta; liberdade curta; ilusão... longa.

domingo, 7 de março de 2010

Blue Noite

um gato se esguia pela noite
como eu faço pelos corredores do mundo

O Conhaque – cobre líquido
em paredes de vidro aprisionado
e logo após em sinapses ébrias
Quando livre, vai por água abaixo

Blue Noite, noite blues
azul ou rosa, o céu despenca
sobre nossas cabeças
ébrias sinápticas

Cobre no sangue, ouro no peito,
Chumbo no corpo e nenhum metal nobre

Metais Nobres!
Noite Nobre!
Noite Blues

Blue Noite

O Tempo e Eu

Hoje, enquanto sonolentamente caminhava pela rua, eu o vi. Estava só e me olhava sorrateiro, de canto de olho, do outro lado da rua. Me acompanhou por uma ou duas quadras até que nossos caminhos, mais uma vez tomaram sentidos opostos.
Pareceu-me triste e pensativo. Talvez ande muito sozinho, pois sempre quando notado é recebido com maus olhos, com desespero, tudo em nome da estética. Não discordo que sua presença provoca sempre mudanças significativas. Para uns pra pior; para outros nem tanto assim. Não sei como o receberei quando se dispuser em minha frente. Por hora apenas nos espiamos e seguimos nossos caminhos. Contudo, acredito que nos daremos bem. Boas conversas trocaremos, até porque não me restará mais nada senão conversar, recordar.
Há quem diga que ele não existe, mas eu o vi. E o vejo sempre no caminhar das pessoas, nos rostos apavorados em sua aparência, que a meu ver não é nada demais. Mas reparo que tudo o que é vivo também o vê e, no entanto, não reage dessa forma. A vida em si se contempla.
Hoje pela manhã eu vi o tempo andando pela rua. O vi agindo, dançando, correndo, acontecendo. E eu o vi vivendo. Eu vivia e ela vigiava. Entretanto, nós dois acontecíamos. Não da maneira mentirosa como os relógios o fazem, ou melhor, tentam inutilmente fazer.
Na verdade, acredito que nos ignoramos mutuamente, afinal ainda não era tempo. Eu vi o tempo quando não era tempo, nem o tempo era eu, pois ainda há tempo, o tempo das árvores, das nuvens, do vento, do árduo caminhar das formigas ao som do canto dos grilos. E sobretudo - alheios a tudo, havia o tempo e eu.